domingo, 6 de setembro de 2009

A crise do ensino superior no Brasil - um ponto de vista...

Embora não seja expert em pedagogia do ensino tenho militância de quinze anos em curso de graduação superior em direito, na Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce, em Governador Valadares-MG, com algumas pós graduações - quatro pelo menos - na área jurídica, e cursos de aperfeiçoamento em docência permitindo-me, na condição de observador e partícipe do ensino, uma visão geral da notória crise da educação reinante no Brasil que se reflete diretamente na sala de aula e na qualidade do bacharel egresso dos bancos de escola, habilitando-me externar algumas reflexões que ora pretendo compartilhar.
Há dez anos ou mais, o MEC pôs em prática os exames nacionais de curso, buscando avaliar a qualidade do ensino superior no Brasil. Deparou-se, como é do conhecimento geral, com a triste constatação de que se os egressos de então não estavam à altura do desejado era indicação certa de que o problema não estava localizado nas faculdades como se alardeou, pelo contrário, tinha raízes na má qualidade do ensino básico. E se a base não era boa, consequentemente o ensino superior estava refém dessa má formação e obviamente sofreria seus reflexos.
Sou egresso de um sistema de ensino da década de 60/70, em que a cultura geral e a diversidade de conteúdos era predominante, o grau de exigência era elevado e predominavam os cursos diurnos. Havia reprovação ao aluno que não correspondesse. Professor era valorizado, admirado, respeitado.
O que vimos ao depois, foi uma proliferação de cursos noturnos igualando-se ou mesmo superando em quantidade os cursos diurnos, trazendo em decorrência uma natural perda da qualidade do ensino notadamente por acolher a massa de estudantes após cansativa jornada diária de trabalho. Não bastasse, no ensino fundamental e médio foi abolida a reprovação, adotando-se outro critério que desaguou num verdadeiro empurra-empurra do aluno deficiente que antes seria reprovado, concedendo-lhe duvidosas chances e oportunidades para que saísse da escola, certamente para rechear os índices estatísticos, dando uma falsa impressão de diminuição do analfabetismo, etc. etc., abrandando de forma geral o rigor exigido na educação. E, nessa trajetória, aos trancos e barrancos, essa massa chegou às portas da graduação superior e... bacharelou-se!
O que vemos na atualidade foi a morte anunciada da qualidade do ensino básico e que hoje permanece ruim. A qualidade que, antes não atendia às expectativas, caiu a níveis impressionantes.
A minha escola, numa busca insistente de manter a qualidade do seu egresso, não mediu esforços e há anos pôs em prática diretrizes exigidas pelo MEC (que transferiu à escola particular a responsabilidade pelas mazelas do ensino superior, dando a entender à sociedade serem elas as vilãs de tal situação, numa verdadeira caça às bruxas e sob ameaças de sanções, intervenção, proibição de vestibulares, etc.) Daí a exigência de docentes com melhor formação (mestrado, doutorado, que floresceram rapidamente em todo o país, inclusive com cursos à distância, etc), habilitação de docentes através dos permanentes CPA, CADES (curso de aperfeiçoamento na docência do ensino superior), ministrado periodicamente e que, sem dúvida, nos leva a um melhor preparo no desempenho da didática em sala de aula com técnicas de ensino-aprendizagem, deixando-nos deveras mais preparados para o exercício da ensinagem e transmissão do conhecimento.
Munidos dessas novas práticas pedagógicas, nós professores partimos entusiastas para aplicá-las em sala de aula e nos deparamos com a frustrante e generalizada frieza do corpo discente para com o conhecimento, desinteressados e descomprometidos com seu curso.
As avaliações procedidas nos revelaram, a despeito de todo este arcabouço pedagógico, que a coisa anda de mal a pior e constatamos que a base educacional a que me referi acima, está chegando a níveis críticos. Alunos sem conhecimento elementares da língua portuguesa, e da gramática incapazes de interpretar textos, pouco afeitos a uma mínima educação familiar e humanística, e em grande parcela perdidos na busca de seus ideais cursando, apenas por cursar, o bacharelado porém, sem o necessário comprometimento ético.
Na sequência, essa massa desinteressada culmina por se formar e, na véspera de sua graduação, desperta para a realidade e se arroga o natural direito de concorrer a cargos públicos de elite (juízes, promotores, delegados, procuradores, e outros tantos), atrás de bons vencimentos e estabilidade. E o mais grave, será a geração do futuro que conduzirá nossos destinos nos mais variados escalões do executivo, legislativo, judiciário e nas profissões liberais ...
A panorâmica acima traz uma grande e inquietante indagação: onde foi que nós, sociedade, erramos?
Será pela manutenção demasiadamente longa do nosso sistema de educação que reflete a sociedade do início do século XX (com recursos da lousa e giz), ainda utilizada por boa parcela das instituições de ensino e que hoje se revela ultrapassada e desmotivadora ao discente face ao surgimento de novos recursos, notadamente das maravilhas da informática e internet num mundo globalizado?
Ou será fruto do descaso do Estado com a banalização do ensino desprestigiando a classe dos docentes a ponto de um político governante mineiro ter rotulado, jocosamente, as professoras normalistas de que recebiam "diploma de espera marido", ante os irrisórios salários pagos, concorrendo decisivamente para a mediocridade, o apagão, do ensino fundamental, sobretudo da escola pública, onde antes, p.e., o Colégio Estadual de Minas Gerais, era considerado modelo nacional?
Acaso seria a acelerada transformação da malha social iniciada no pós guerra acendendo as crises da modernidade, pósmodernidade e hipermodernidade, deixando-nos, todos, sem referencial e sem tempo para assimilar e processar tão sucessivas mudanças de costumes e valores?
Seria correto dizer que, nesse contexto, não há culpados mas, na verdade, somos todos vítimas da hipermodernidade, especialmente no campo da educação, tornando a sala de aula um lugar entediante para o discente e frustrante para o docente?
Estamos diante de um angustiante desafio que deve, urgentemente, ser encarado exigindo atitudes e comprometimentos das elites envolvidas. Mas o que, efetivamente, devemos fazer?
Muitas perguntas, poucas respostas conclusivas.
É difícil ter uma resposta pronta, mas devemos buscar conciliar o lado positivo do sistema antigo com as modernidades emergentes.
É óbvio que o tema é palpitante, não se esgota nesse primeiro ensaio e embora haja mentes mais brilhantes e especialistas na área, me senti no dever de dividir essa inquietação haja vista não ser minha somente...
Com a palavra os nossos sociólogos, filósofos, pedagogos, terapeutas, psiquiatras e outros interessados...














`